[Rosilda para Cremilda]:
- Então, resolveu o problemão ontem? Você estava tão misteriosa...
- Você é que estava curiosa, confessa
- Hi, se não quiser não conta, tá? Eu heim!?
- Não, de jeito nenhum vou deixar minha amiga se mordendo de curiosa...
- É ruim, heim, tô nem aí, tá vendo isso aqui,livro, esse é que mata minha curiosidade!
- ...
- Tá rindo de quem, de mim?
- Não, Rosilda, acredite se quiser, de mim!
- Ãhn, de você mesma, por que? ...Se não quiser, não precisa contar.
- Sabe o que fiz ontem?
- Hum?
- Segui o Boanerges...
- Você está me dizendo que você foi atrás do Boa, você? Se não é você me contando...
- Eu mesma, às vezes me permito o ridículo. Imagina onde ele estava indo?
- ´Xo ver, se não é pra jogatina, pro bar ou pra pelada...Ou algo muito, muito surpreendente, à igreja...?
- Passou longe! Para a fi-la das figurinhas da Copa!
- Figurinh... ah, mas isso não tem nada de ridículo, isso é uma febre nacional!
- Não, isso é uma forma de exploração consentida como nenhuma outra!
- Como exploração consentida? Não exagera!
- Esse álbum milionário é que nem pirâmide, só ganham poucos. A maioria agasalha prejuízo!
- Menos, Cremilda. É a lógica de todo jogo. A banca leva vantagem.
- Você precisava ver o Boa, crianção rodeado de garotos, disputando as figurinhas, como se tivesse a idade deles.
- Tô vendo é você cruzando os braços pra ele, e recriminando o coitado.
- Sabe que não? Senti até um pouco de ternura por ele, acredita?
- Que bom... É nosso lado infantil, todos temos em certa medida.
- Não, Rosilda. Você não está entendendo. O lado infantil do Boa não tem medida!
- Exagero seu. Se bobear, tem mais crianção do que criança de verdade nessa febre. E o que você fez afinal?
- Nada, ri, ele riu de volta, amarelo, e disse "tô aqui trocando figurinha", eu disse "literalmente".
- Hahahaha, imagino a cena, a mãezona dando flagrante, batendo os pezinhos.
- Não, juro por Deus, Rosi, eu ri sem recriminar, ele me olhou como se não acreditasse na minha compreensão.
- Natural. E aí?
- Ele me botou na fila pra marcar lugar, fiquei plantada com essa cara de paisagem que Deus me deu. No meio da muvuca, uma zoeira de garotos, perguntando "tia," quem eu tinha, qual não tinha, não fazia a menor ideia! Jamais em minha vida me imaginei num lugar como aquele!
- Hum.
- Sei lá, quando me dei conta, não vi mais o Boa, enchi o saco, e fui embora com um monte de figurinha.
- E afinal, por que todo esse mistério?
- Quando ele chegou, explicou que só ia me mostrar o álbum quando estivesse completo. Que era uma surpresa. Pra não ter que ouvir o tempo todo de mim que "era dinheiro jogado fora".
- Taí, é bem você, amiga. Desculpa.
- ... e pior, disse que eu estraguei a surpresa. E aí jogou o álbum na mesa, todo dramático.E saiu puto.
- Hahaha você estragou a surpresa, né, sua megera!
- Até pensei nisso e chegou a pintar uma pontinha de remorso, que durou pouco. Se fosse uma chantagem...
- Hum... Se eu fosse você, faria algo.
- Algo o quê?
- Ajuda ele a completar, é só trocar as que você tem pelas que não tem, pronto!
- Eu? Ajudar a encher mais as burras da FIFA?
- Que FIFA, nem FIFA, esquece! O povo gosta!
- Ou você não acha que a FIFA não entra nos royalties?
- Abstrai, Cremilda. Ó, a regra de ouro é: em quanto mais bancas você for, melhor!
- Tá bem por dentro, heim? Rosilda, não me diga que você...?
- ...
- Rô, confessa!
- ...
- Rô?
- Está bem, comprei pra meu sobrinho .umas 50 figurinhas.
- Que sobrinho? Você nem tem irmãos, Rosi! Te peguei!
- O Tavinho, filho da Elaine, é como se fosse.
- Nem vem, Rosi! Tá fazendo igualzinho ao Boa, assume!
- Vai me chamar de ridícula também?
- Prometo que não. Eu é que sou a ridícula diante do ridículo do mundo.
- Está bem, eu comecei um álbum, mas não sei ainda se vou acabar.
- Rá, ninguém sabe, mas já que começou, minha filha, relaxa e aproveita!
- Mesmo?
- Conversa com o Boa, quem sabe vocês não trocam figurinhas...
- Tá falando sério?
- Seríssimo, nunca falei tão sério!
- Nunca vi ditado mais certo.
- Qual?
- "Nunca diga: dessa água não beberei"...
- Tá rindo de quem, de mim?
- Não, Rosilda, acredite se quiser, de mim!
- Ãhn, de você mesma, por que? ...Se não quiser, não precisa contar.
- Sabe o que fiz ontem?
- Hum?
- Segui o Boanerges...
- Você está me dizendo que você foi atrás do Boa, você? Se não é você me contando...
- Eu mesma, às vezes me permito o ridículo. Imagina onde ele estava indo?
- ´Xo ver, se não é pra jogatina, pro bar ou pra pelada...Ou algo muito, muito surpreendente, à igreja...?
- Passou longe! Para a fi-la das figurinhas da Copa!
- Figurinh... ah, mas isso não tem nada de ridículo, isso é uma febre nacional!
- Não, isso é uma forma de exploração consentida como nenhuma outra!
- Como exploração consentida? Não exagera!
- Esse álbum milionário é que nem pirâmide, só ganham poucos. A maioria agasalha prejuízo!
- Menos, Cremilda. É a lógica de todo jogo. A banca leva vantagem.
- Você precisava ver o Boa, crianção rodeado de garotos, disputando as figurinhas, como se tivesse a idade deles.
- Tô vendo é você cruzando os braços pra ele, e recriminando o coitado.
- Sabe que não? Senti até um pouco de ternura por ele, acredita?
- Que bom... É nosso lado infantil, todos temos em certa medida.
- Não, Rosilda. Você não está entendendo. O lado infantil do Boa não tem medida!
- Exagero seu. Se bobear, tem mais crianção do que criança de verdade nessa febre. E o que você fez afinal?
- Nada, ri, ele riu de volta, amarelo, e disse "tô aqui trocando figurinha", eu disse "literalmente".
- Hahahaha, imagino a cena, a mãezona dando flagrante, batendo os pezinhos.
- Não, juro por Deus, Rosi, eu ri sem recriminar, ele me olhou como se não acreditasse na minha compreensão.
- Natural. E aí?
- Ele me botou na fila pra marcar lugar, fiquei plantada com essa cara de paisagem que Deus me deu. No meio da muvuca, uma zoeira de garotos, perguntando "tia," quem eu tinha, qual não tinha, não fazia a menor ideia! Jamais em minha vida me imaginei num lugar como aquele!
- Hum.
- Sei lá, quando me dei conta, não vi mais o Boa, enchi o saco, e fui embora com um monte de figurinha.
- E afinal, por que todo esse mistério?
- Quando ele chegou, explicou que só ia me mostrar o álbum quando estivesse completo. Que era uma surpresa. Pra não ter que ouvir o tempo todo de mim que "era dinheiro jogado fora".
- Taí, é bem você, amiga. Desculpa.
- ... e pior, disse que eu estraguei a surpresa. E aí jogou o álbum na mesa, todo dramático.E saiu puto.
- Hahaha você estragou a surpresa, né, sua megera!
- Até pensei nisso e chegou a pintar uma pontinha de remorso, que durou pouco. Se fosse uma chantagem...
- Hum... Se eu fosse você, faria algo.
- Algo o quê?
- Ajuda ele a completar, é só trocar as que você tem pelas que não tem, pronto!
- Eu? Ajudar a encher mais as burras da FIFA?
- Que FIFA, nem FIFA, esquece! O povo gosta!
- Ou você não acha que a FIFA não entra nos royalties?
- Abstrai, Cremilda. Ó, a regra de ouro é: em quanto mais bancas você for, melhor!
- Tá bem por dentro, heim? Rosilda, não me diga que você...?
- ...
- Rô, confessa!
- ...
- Rô?
- Está bem, comprei pra meu sobrinho .umas 50 figurinhas.
- Que sobrinho? Você nem tem irmãos, Rosi! Te peguei!
- O Tavinho, filho da Elaine, é como se fosse.
- Nem vem, Rosi! Tá fazendo igualzinho ao Boa, assume!
- Vai me chamar de ridícula também?
- Prometo que não. Eu é que sou a ridícula diante do ridículo do mundo.
- Está bem, eu comecei um álbum, mas não sei ainda se vou acabar.
- Rá, ninguém sabe, mas já que começou, minha filha, relaxa e aproveita!
- Mesmo?
- Conversa com o Boa, quem sabe vocês não trocam figurinhas...
- Tá falando sério?
- Seríssimo, nunca falei tão sério!
- Nunca vi ditado mais certo.
- Qual?
- "Nunca diga: dessa água não beberei"...
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