
- Sou prevenida, quer?
Rosilda, sonolenta, faz que não com a cabeça.
-Deviam inventar um kit- engarrafamento. Lanche, tv...Remédio prá dor de cabeça, enjôo, almofadas,chicletes...Como nos aviões.
- Hum... De repente, silêncio, Cremilda olha para Rosilda com ar estranho :
- Que foi ?
-Deviam inventar um kit- engarrafamento. Lanche, tv...Remédio prá dor de cabeça, enjôo, almofadas,chicletes...Como nos aviões.
- Hum... De repente, silêncio, Cremilda olha para Rosilda com ar estranho :
- Que foi ?
-Me ocorreu uma coisa.
-O que?
-Hum, fico pensando se essa ponte, tão velha assim, ainda tem estrutura para aguentar essa carga toda.
- Ora, claro que tem, claro...bem, pelo menos espero...
- Quero dizer com esse peso todo assim, só de um lado...
-Claro, fizeram testes de carga e tudo o mais!
-Será que esses caras que fizeram os testes viajam todos os dias? Água mole em pedra dura...
-Ô, Cremilda, vira essa boca pra lá!
- E será que testaram, com a ponte engarrafada só de um lado? Um cheio de carga e outro, sem nada, nadinha, em cima?
- São cálculos sofisticados, Cremilda, alta tecnologia, e olha, de Portugal, heim?
-Xi!
- Ora, claro que tem, claro...bem, pelo menos espero...
- Quero dizer com esse peso todo assim, só de um lado...
-Claro, fizeram testes de carga e tudo o mais!
-Será que esses caras que fizeram os testes viajam todos os dias? Água mole em pedra dura...
-Ô, Cremilda, vira essa boca pra lá!
- E será que testaram, com a ponte engarrafada só de um lado? Um cheio de carga e outro, sem nada, nadinha, em cima?
- São cálculos sofisticados, Cremilda, alta tecnologia, e olha, de Portugal, heim?
-Xi!
- Portugal tem a maior tradição em construção civil.
- Sei não...
- Ô, Cremilda, isso é coisa que envolve responsabilidade, é coisa séria, são vidas humanas!
- Responsabilidade, coisa séria... Lembra o De Gaulle? “Este não é um país sério..”
- Lembro.“Esse país não é sério”. Soube que ele nem falou isso, foi desmentido, sabia?
- Foi quem, então?
- Não sei não. Algum gaiato, espírito de porco. Não tem esses caras que inventam coisas que uma celebridade não disse?
-Tudo bem, não importa quem disse, porque quem disse tinha razão.
- tsc!
- Ô, Cremilda, isso é coisa que envolve responsabilidade, é coisa séria, são vidas humanas!
- Responsabilidade, coisa séria... Lembra o De Gaulle? “Este não é um país sério..”
- Lembro.“Esse país não é sério”. Soube que ele nem falou isso, foi desmentido, sabia?
- Foi quem, então?
- Não sei não. Algum gaiato, espírito de porco. Não tem esses caras que inventam coisas que uma celebridade não disse?
-Tudo bem, não importa quem disse, porque quem disse tinha razão.
- tsc!
- Pois vou te falar uma coisinha que eu nunca quis contar prá você...Não é prá te alarmar, não...
- O que?
- Eu sinto um certo calafrio toda vez que engarrafa no vão central, “o maior vão do mundo” -fica uma vibração parada, com esse peso todo só de um lado, naquele vãozão enorme, não gosto não...
- Ah, que isso! Não se preocupe não, outro dia eu li que aqui embaixo fica uma equipe de plantão para observar rachaduras, infiltrações, vigas podres, essas coisas...
-Pelo menos se a ponte cair, essa tal equipe cai primeiro, né?
- Se eu fosse você, Cremilda, parava de me preocupar com isso. E com quem disse que o Brasil não é sério... Lê alguma coisa. Olha a paisagem. Olha que bonito, o mar azul, aqui do alto, nem parece que é poluído. Olha só, estamos chegando ao vão central.
Breve pausa. Cremilda suspira.
-Às vezes dá saudade das lanchas...
- Ué, mas as lanchas não acabaram!
- Eu sei, mas elas têm um quê de nostálgico, depois que construíram a ponte.
-Tá falando isso só por causa da “vibração parada”, não é?
- Sabe de uma coisa, Rosi, você tem razão. Ainda bem que eu tenho uma amiga bem informada e que tem esse espírito assim, tão positivo e confiante. Ainda bem! Vou dormir, que é melhor a fazer. Cremilda vira-se para o canto, se acomoda e fecha os olhos.
Rosilda, que antes estava tranquila, não sabe porque, viu-se assaltada de uma estranha sensação de inquietação, com a proximidade lenta do vão central.
-“Vibração parada”... Olha de cima a passagem das pacatas lanchas e diz para si:
- Ah, bobagem ! Nessa idade a gente costuma ter ataques de pânico e surtos de nostalgia.
- O que?
- Eu sinto um certo calafrio toda vez que engarrafa no vão central, “o maior vão do mundo” -fica uma vibração parada, com esse peso todo só de um lado, naquele vãozão enorme, não gosto não...
- Ah, que isso! Não se preocupe não, outro dia eu li que aqui embaixo fica uma equipe de plantão para observar rachaduras, infiltrações, vigas podres, essas coisas...
-Pelo menos se a ponte cair, essa tal equipe cai primeiro, né?
- Se eu fosse você, Cremilda, parava de me preocupar com isso. E com quem disse que o Brasil não é sério... Lê alguma coisa. Olha a paisagem. Olha que bonito, o mar azul, aqui do alto, nem parece que é poluído. Olha só, estamos chegando ao vão central.
Breve pausa. Cremilda suspira.
-Às vezes dá saudade das lanchas...
- Ué, mas as lanchas não acabaram!
- Eu sei, mas elas têm um quê de nostálgico, depois que construíram a ponte.
-Tá falando isso só por causa da “vibração parada”, não é?
- Sabe de uma coisa, Rosi, você tem razão. Ainda bem que eu tenho uma amiga bem informada e que tem esse espírito assim, tão positivo e confiante. Ainda bem! Vou dormir, que é melhor a fazer. Cremilda vira-se para o canto, se acomoda e fecha os olhos.
Rosilda, que antes estava tranquila, não sabe porque, viu-se assaltada de uma estranha sensação de inquietação, com a proximidade lenta do vão central.
-“Vibração parada”... Olha de cima a passagem das pacatas lanchas e diz para si:
- Ah, bobagem ! Nessa idade a gente costuma ter ataques de pânico e surtos de nostalgia.
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