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21.4.20

Os demônios de Sidney Sheldon


Cremilda e Rosilda viajam algum tempo caladas...

- O que houve?
Sidney Sheldon (Author of If Tomorrow Comes)
- Por que está perguntando?
- Tá esquisita. Você não fica calada por mais de cinco minutos, Rosi...
- É, na verdade houve algo sim, eu  estava tomando coragem pra te contar...é que... eu caí em tentação.
- Não sou padre não, mas amiga mas é como se fosse, qual foi a tentação, afinal? Quebrou as finanças nas liquidações?
- Não. Antes fosse.
- Hum, já vi que se arrependeu...
- Sim.. Vamos lá (Pigarreando), lembra aquele entupimento da pia de que te falei?
- Ha-hã...
- O bombeiro apareceu.
- Normal...e daí?
- Cremilda, quando abri a porta, me vi diante de um deus grego, fiquei sem fala. Sabe, sabe... moreno de olhos dágua? Que encanador!
- Verdes?
- Verde-claros
 Já vi tudo, atacou o homem!
- Sim ... Quer dizer, não imediatamente.
- Sério? Eu estava brincando!
- Você já teve um impacto  emocional absurdo, diante de um homem?
- Que eu me lembre, foi quando vi Alan Delon aparecer em "O sol por testemunha"(1). Mas conta.
- Estava calor, primeiro ele tirou a camisa...
- Hum, golpe baixo...
- Não, ele foi educado, mandou um "se a senhora me permite"...
- Menos mal.
 - Depois, agachado, debaixo da pia, desenroscando as peças, aquele dorso dourado, aquele tanquinho, uma nuca linda, tenho um fraco por nucas bonitas . 
- Quantos anos?
- Beirando os cinquenta, eu acho. 
- Ah, idade do lobo! 
- Amiga, em seguida foi uma sequência de panaquices minhas, toda hora eu  oferecia água, café, coitado, e tome água e café, e  papinho besta tipo "calor hoje, heim"? Ele só levantava os olhos e sorria. Mais idiota eu, impossível.
- Nessa hora até café combina com calor...  ficou enfeitiçada.
- Enfeitiçada é pouco, fiquei possuída! Como se meus demônios tivessem acordado, todos ao mesmo tempo!
- Demônios não, Rosi, vamos combinar, hormônios! Hormônios quando despertam é fogo!
- Aí ele acabou o serviço, e levantou-se, alto, parecia mesmo saído de um livro do Sidney Sheldon, só que muito suado!
- Será que os homens de Sidney Sheldon ficam suados?
- Só sei que o cheiro era bom, a energia, o clima, sei lá, tudo conspirava,  ele percebeu, devo ter corado, ele disse com certa  malícia, me olhando com os olhos de água do mar: "vejo que a senhora também está com muito calor",  eu pingava por todos os poros.
- E mais alguma coisa.
- Pois é, aí  eu fiz a pergunta fatal...
- Qual?
- "Você não quer tomar um banho?' Só que não foi num tom casual, foi...insinuante.
- Tsc,tsc,tsc. Estou suando agora também.
- Aí ele concordou, peguei uma toalha, coração aos pulos, e ele entrou no box, aquela escultura ambulante...
- tsc, tsc,  tsc.E aí?
- E aí... E aí...
Bingo, você entrou também!
- Me aproximei. Ele me puxou com delicadeza, eu estava hipnotizada.
- ...
- Você está chocada, não está?  
- Hum... Acho que só um pouco besta
-  Pouco tempo, mas eterno enquanto durou
- Ufa!Que loucura...
- Aí acabou, fui pro quarto, troquei a roupa, melhor, vesti a razão, vexada, enfim, sem saber como iria olhar pra cara dele. Vi  pela fresta da porta ele colocar as calças, aí  reparei até que a cueca dele era meio furrequinha... que vergonha!
- Da cueca?.
- Não, de mim. Meu mundo caiu,  eu queria era voar pela janela!
- Entendo. Mas, quer saber, eu acho que eu nunca teria um momento assim. Meus hormônios não querem nada !  Mas vai.
- Quando voltei, ele estava de pé, na sala, sereno, com a valise na mão, cabelos molhados, lindo, esperando, como se nada tivesse acontecido. Paguei, com dificuldade de teclar a  senha.
-Imagino.
- E aí eu virei pra ele, não sei se pra melhor ou prá pior e disse, sem olhar : "o que aconteceu aqui foi uma espécie de acidente, tá?". Ele respondeu na maior dignidade, "a senhora fica tranquila, tá tudo certo".
- Um cavalheiro esse deus grego.
- Fiquei com a sensação de ter traído a mim mesma.
- Vamos combinar que foi , digamos, certo atraso acumulado?
- Não sei. Depois que ele saiu, chorei. Chorei muito.
- Devia ter me ligado. Mas relaxa. Por que não perder o juízo uma vez na vida?
-  Achei que isso só acontecia em bestsellers...
-  Sinta-se então uma personagem de Sidney Sheldon! E o nome dele?
-  Ciro.
- Então não era um deus grego, era  persa!
- Agora vem o pior. Fiquei com o nome e aquele rosto martelando na cabeça, até dormir. De manhã, uma lembrança me acordou...
- E ...?
- Caiu a ficha. Tinha sido um aluno meu, Ciro, adolescente, já chamava atenção pela beleza, numa época em que  andei dando umas aulas de reforço. O que é a vida, né?
- Pra você ver. Às vezes a vida dá banho nos romances.
-  E literalmente deu um banho em nós...
[Suspiros]
- Agora que te contei, me sinto aliviada.
- Sabe que de minha parte ...
- Eu sei.
- ...
- Que foi?
- Escuta,  você teria  aí o telefone dele?
- Mas o quê, como assim, Cremilda! Você...!?
- Sim.
 - Precisando de encanador? 
- Não,  é só pra ver como andam meus hormônios.
- Ó...
(baseado em fato real)
______________
1.     (1) Plein soleil (O sol por testemunha) é um filme franco-italiano de 1960, do gênero drama, dirigido por René Clément. O roteiro, escrito por Clément e por Paul Gégauff, foi baseado no livro O talentoso Mr. Ripley de Patricia Highsmith. e foi estrelado por Alain Delon (Wikipédia)
2.     A foto é do escritor norte-americano Sidney Sheldon

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