Cremilda e Rosilda estão num restaurante-com-cara-de-boteco, mas famoso por seus bacalhaus e frutos do mar, e ainda aguardando a chegada das amigas para confraternizarem o fim de ano. Muito tumulto e aperto entre as mesas. Elas vão chegando aos poucos e sendo recebidas com muita festa. A cerveja já encabeça as entradas,beijinhos e brindes pra lá e prá cá.

- Sim, é álcool nunca mais !
- Vaia nela, meninas. - Seguem-se as vaias e os risos e gritaria de "álcool, álcool,álcool""bebe, bebe,bebe"!
- Por isso mesmo, sem chance. Se ainda tivesse com um gato...Prefiro ficar sóbria.
- Hum (Cremilda sussurrando) olha ali, tem dois gatos na mesa vizinha, sozinhos....
- Sozinhos e bem casadinhos, pode apostar. Ou são namorados.
- Como saber? Só chegando ...
Um deles percebe que é alvo de comentário, levanta um brinde e dá um selinho no companheiro.
- Não disse?
- Não perca as esperanças.
- Não adianta, amiga. O mundo é gay.
Cremilda levanta o copo:
- Um brinde à cerveja fake!
- E eu ao mundo gay!
Risos e aplausos.
Rosilda, a certa altura, se distancia um pouco das conversas e dá um giro com o olhar naquele espaço popular e intenso, simples com suas toalhas xadrez, transbordando euforia de fim de ano, quando se depara com um enorme retrato a óleo na parede, ocupando um canto inteiro da parede. Um senhor, idade indefinida, para além dos setenta, nem distinto nem indistinto, olhar vago, inexpressivo. Seria aquele quadro uma homenagem póstuma, um abuso de vaidade, ou a paga da dívida de um pintor? Tentou comentar com as amigas, mas elas estavam tão atentas aos "babados " do trabalho, que achou melhor elucubrar, pensando na causa mortis daquele retratado, para quem imaginava nada de muito espetacular ter acontecido. Devia seria ser o primeiro dono do restaurante e um filho prestou-lhe uma bela homenagem. Um trivial AVC, ou um câncer talvez - seu aspecto era de uma pessoa já tomada pelos achaques da idade, coitado. Perdida nesses pensamentos, de repente, sente umas batidas leves nas costas e vê surgir, nada mais nada menos, bem ali do seu lado, o morto do retrato ao vivo!. Um grito, incontido e a mão ao peito foram instantâneos. Ele, surpreso, se desculpou. - Senhora.. perdão não queria assustá-la tanto!
- Estava distraída, me desculpa o senhor... respondeu Rosilda, abanando-se com o cardápio -
Nada a desculpar. Então... o senhor então é.. é ele? - disse Rosilda aponta para o retrato, sabendo que ele era ele.
- Perfeitamente. Um amigo pintor que, infelizmente que não está mais entre nós, doou-nos.
- Ah, o pintor foi quem morreu..., concluiu Rosilda quase inaudível, - que ironia, heim ?
- Sim, levou-o um câncer. Caríssimo amigo.- Disse ele, diante das amigas, ainda perplexas com a reação de Rosilda.
- Boa noite, senhoras. Sou o dono do estabelecimento, Joaquim Oliveira III, às suas ordens. Estou cá a saber se as distintas senhoras estão bem servidas .- disse ele com um leve sotaque lusitano.
Todas responderam em coro que sim. Ao verem depois o Joaquim Oliveira III se afastar, alguém comentou
.-Hum, dinastia do bacalhau!
E voltando-se para Rosilda:
- Que chilique foi aquele, Rosi? O homem é feio, mas não é nenhum frankenstein! Parece que viu um fantasma!
- Meio que sim...Sabe o retrato a óleo ali na parede,- todas olharam - eu jurava, pela minha mãezinha, que só podia ser póstumo! Fiquei imaginando do que esse senhor teve uma morte chinfrim ou gloriosa, ou o que fez pra merecer um quadro desses e, justo nessa hora, dou com ele chegando pelas minhas costas, como se tivesse saltado do quadro!
- Tem razão, Rosi.
- Tá explicado! Só podia ser alguém da dinastia do bacalhau! - disse Cremilda.
Risos
Alguém, não satisfeito, ainda perguntou:
- Rosilda, fala a verdade, tem certeza que essa cerveja que você tomou foi álcool zero mesmo?
Nada a desculpar. Então... o senhor então é.. é ele? - disse Rosilda aponta para o retrato, sabendo que ele era ele.
- Perfeitamente. Um amigo pintor que, infelizmente que não está mais entre nós, doou-nos.
- Ah, o pintor foi quem morreu..., concluiu Rosilda quase inaudível, - que ironia, heim ?
- Sim, levou-o um câncer. Caríssimo amigo.- Disse ele, diante das amigas, ainda perplexas com a reação de Rosilda.
- Boa noite, senhoras. Sou o dono do estabelecimento, Joaquim Oliveira III, às suas ordens. Estou cá a saber se as distintas senhoras estão bem servidas .- disse ele com um leve sotaque lusitano.
Todas responderam em coro que sim. Ao verem depois o Joaquim Oliveira III se afastar, alguém comentou
.-Hum, dinastia do bacalhau!
E voltando-se para Rosilda:
- Que chilique foi aquele, Rosi? O homem é feio, mas não é nenhum frankenstein! Parece que viu um fantasma!
- Meio que sim...Sabe o retrato a óleo ali na parede,- todas olharam - eu jurava, pela minha mãezinha, que só podia ser póstumo! Fiquei imaginando do que esse senhor teve uma morte chinfrim ou gloriosa, ou o que fez pra merecer um quadro desses e, justo nessa hora, dou com ele chegando pelas minhas costas, como se tivesse saltado do quadro!
- Tem razão, Rosi.
- Tá explicado! Só podia ser alguém da dinastia do bacalhau! - disse Cremilda.
Risos
Alguém, não satisfeito, ainda perguntou:
- Rosilda, fala a verdade, tem certeza que essa cerveja que você tomou foi álcool zero mesmo?
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