
Hoje não houve ônibus. Cremilda e Rosilda resolveram rachar um táxi . No meio do caminho Rosilda começa a procurar algo. Cremilda lê, absorta.
-Engraçado, posso jurar que eu estava com o coração preso na blusa.
-Hum...?
- Não estava, Cremilda, você não viu?
-O quê?
-O coraçãozinho, estava aqui, lembra de ter visto?
-Ahn...Coração, a gente não vê, a gente sente.
-Engraçado, posso jurar que eu estava com o coração preso na blusa.
-Hum...?
- Não estava, Cremilda, você não viu?
-O quê?
-O coraçãozinho, estava aqui, lembra de ter visto?
-Ahn...Coração, a gente não vê, a gente sente.
Rosilda vasculha o banco, Cremilda nem se abala.
-Mas estava bem aqui, bem do lado esquerdo da blusa...Sumiu!
-Mas é aí mesmo que ele tem que estar...no lado esquerdo.
-Deixa de brincadeira, é aquele coraçãozinho de Florença, que o Claudinho me deu!
- Onde já se viu sumir um coração? Ele te deu o coração dele, mas você...
- Do que você está falando?
-Do coração do Claudinho, você perdeu!
-Perdi, perdi, sim, mas foi o meu broche...
-Não, eu sei que você não gosta de tocar no assunto, mas perdeu ...
-Fala sério! Poxa, era de estimação, você não sabe?
-Sei, mas vem cá, fala a verdade, na verdade era de estimação, só porque era um broche de Florença ou porque foi presente do Claudinho?
-Já vi que você está engraçadinha hoje, heim, Cremilda!
-Não faltará oportunidade de você voltar a Florença e encontrar um novo coração. Se é que isso é possível.Você é campeã em desperdiçar oportunidade.
-Tô falando do broche! Quero ele a-go-ra, porque eu estava aqui com ele e ele caiu! E ponto final!
-Ironia. Coisas do coração. Prá cima de mim? Agora quer guardar o coraçãozinho do Claudinho, mas recusou ... Vai entender...
-Nada a ver! tá bem, Cremilda, hoje você se superou de in-su-por-tá-vel, heim?
- Eu, que isso? Eu só tô bem -humorada, aproveita que não é todo dia não.
O táxi vai chegando ao destino. Rosilda ainda fica um tempo procurando a jóia, no banco e no chão do carro. Ela entrega um cartãozinho ao motorista, ao chegarem.
-Se o senhor achar por acaso um coraçãozinho caído no carro, por favor, ligue para este telefone, é de estimação, tem valor estimativo..
-Sim senhora.
O homem examinou o cartão, enquanto elas foram saindo, mas antes de arrancar, dando risada, botou a cara na janela :
- Pode deixar, senhora, assim que eu ouvir as batidas dele aí atrás, aviso à madame!
Cremilda e Rosilda se entreolham vendo o táxi se afastar.
- Aha! Você esqueceu de dizer a ele que era um broche?
-Fala sério! Já não bastava você ... veja só!
- Quem diria heim, de onde menos se espera surge um poeta!
- Ou um sacana igual a você, né?
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