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20.2.15

O telefone, Kafka e os Titãs (o golpe)

Rosilda muito abatida e quieta na viagem, Cremilda observando-a:

- Compreendo seu estado, mas tudo vai se resolver, não fica assim.
- O duro, Crê, é o abalo na sua autoestima, eu me julgava uma pessoa inteligente.
- Mas você é inteligente. Acontece. Até o Einstein teve seus momentos de estupidez, Rosi
- Não consigo acreditar que aconteceu logo comigo!
- Isso não está no domínio das coisas exatas, mas de quanto a gente às vezes é vulnerável e as más experiências servem pra isso. Ninguém é invulnerável. Se fosse assim...

- Se alguém tivesse me falado nisso, da forma como foi, eu diria com a maior empáfia: "que nada, sou bastante inteligente para não cair num golpinho desses". Acharia que só os tolos..., tsc, e agora  pensar que eu sou uma deles...
-Relaxe. O telefone estava ali , como que oferecendo ajuda aos clientes do banco. Tinha câmeras. Pode apostar que aconteceu com outros tão inteligentes quanto você, sabe porque? Muitos  não têm inteligência para o mal.

-  Havia um grupo pequeno ali... ou eram como eu, e desconheciam esse tipo de coisa, ou todos eram da quadrilha?

-É possível, mas você disse que havia uma moça que também  teve o cartão preso na máquina.

- Sim, ouvi ela comentando, mas em seguida aconteceu comigo, fiquei baratinada, não sei o que ela fez. Lembro de alguém se virar  pra mim "pega o telefone, senhora",  um homem ,  não guardei a cara.  Depois quando saí do banco, alguém comentava que deixaram um celular, talvez fosse ela, desesperada, querendo sair dali.

- Provavelmente ela percebeu algo estranho, e quis sair dali rápido, com  medo que os caras a intimidassem, talvez se você não tivesse caído no golpe, ao pegar o telefone, quem sabe não seria intimidada também?

-  Quando relatei à gerente na segunda-feira, e ela me disse taxativamente que "não há telefones no autoatendimento", fiquei estarrecida! Como assim, colocaram um falso aparelho, ou um aparelho camuflado,  funcionando, falei por ele, como puderam? 

- Era fim de semana, o território é livre pra bandalha! Não devia, mas é.

- O cartão prender, isso já ouvi várias vezes acontecer com várias pessoas, mas o telefone fazer parte do esquema foi demais! Nas minhas noites mal dormidas sonhei com uma situação kafkiana, um juiz velho apontando para meu nariz e dizendo: "a senhora está mentindo: não existem telefones no auto-atendimento do banco", depois várias caras se aproximando de mim e repetindo: "Não existem telefones no autoatendimento do banco" e eu gritando; "havia sim, eu peguei, eu falei com a mulher que se passou por atendente, eu dei os dados porque  acreditava que ela era atendente", tapando os ouvidos e gritando  e, cada vez mais, pessoas se aproximavam para me dizer "Não havia telefones..." e eu "não, não, não"!!!

-Cabeça fria. Situações kafkianas existem, quando passamos por algum absurdo, quem já leu Kafka¹ sabe. Agora as coisas seguem seu curso normal, o da Justiça, e pronto, Kafka acabou, até que algum novo absurdo aconteça. O que não pode é isso tomar conta de sua mente, de sua vida.

- É difícil, na verdade, é como um tombo, um acidente, a gente nunca está preparado.

- Deixa o telefone de Kafka prá lá e da próxima vez não acredita nos Titãs ² quando cantam que" o acaso  vai te proteger enquanto eu ficar distraído"...

- Verdade, no meu caso tem muita maldade nesse acaso aí.
- Não é que é mesmo?

1 Franz Kafka    2 Titãs banda brasileira de rock

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