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29.6.16

Ecofilosofando

Rosilda procura algo em sua bolsa:
- O que você tanto procura, mulher?
- Minha sacola retornável. Vou ao mercado. Não suporto quando esqueço, ai!
- Nem ligo.
- Como assim, não acha uma boa ideia sacola retornável?
- Rá, já desisti, meu armário está cheio delas, agora tenho retornáveis e não retornáveis.
- É, mas não temos que fazer a nossa parte?
- É... Lembra quando a gente carregava bolsas de papel do mercado, e ninguém falava ainda em ecologia?
- É... mas acho que hoje em dia a consciência é maior.
- Será...?
- Já sei, não leva fé. Pra variar.
- Lembra que na nossa época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja?
- Sou tão antiga assim?
-Sim senhora!A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reúso, e  os  fabricantes de bebidas usavam as garrafas, umas tantas outras vezes. Não lembra disso?
- Era pequena.Mas acho que isso tá voltando.
- Não lembra? As fraldas de bebês eram lavadas e esterilizadas, porque não havia fraldas descartáveis. A secagem era feita com energia aeólica, quer dizer,  vento no quintal.
- Mas lavar fralda ninguém merece. Eu não vivi isso.
- Viveu sim. E não tem tanto tempo assim.Lembra que os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos irmãos ou primos  mais velhos, e não roupas sempre novas? E nem éramos pobres, era uma cultura da época.
- Não é comum acontecer isso hoje em dia.
- Agora quem faz isso são os muito pobres. Muito, porque os remediados ainda fazem cara feia quando você fala em brechó.
-  É verdade . O preço do conforto hoje é o descarte.
- Havia somente uma tv ou rádio na sala, e não uma tv em cada quarto. Agora tem telão do tamanho de um estádio; e depois  isso será descartado como?
- É, boa pergunta. Acho que é tipo assim, "eu tenho uma 70 polegadas, logo eu posso". Tudo por causa de status.
- Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para proteger, não tinha plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para degradar.
- E acaba tudo no mar, estou ficando deprimida. Pára por aí.
- Para cortar a grama, era utilizado um cortador mecânico, que exigia músculos , sem  combustível. 
- Academia pra quê? Andávamos de bicicleta...
- Daqui a pouco você vai ao tempo da invenção da roda.
- Tá brincando? É sério! Recarregávamos canetas várias vezes, ao invés de comprar uma outra. 
- Ah não! Isso era muito chato, meu pai tinha um tal de mata-borrão, nunca me esqueço.
- Os homens usavam  navalhas, ao invés de jogar fora  os aparelhos descartáveis e poluentes, só porque a lámina ficou sem corte em 24 horas.
- Devia ser obrigado a indústria recolher e reciclar, mas nada mais existe para durar. Nada.
- Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede pra  uma dúzia de aparelhos. 
- Em compensação temos  GPS pra receber sinais de satélites a milhas de distância , só para encontrar a pizzaria mais próxima.
- Isso sim é bom.Esse tipo de coisa devia ser pra finalidades relevantes...Mas, saudosismo também não. 
- Não, não é saudosismo; não tem é tecnologia para não tornar tanta coisa descartável. Agora precisa de tecnologias para descartá-la.
- Imagina tudo isso agora multiplicado por quantos bilhões de cabeças no planeta!
-  Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não queira abrir mão de nada?   Nem admite em viver minimamente como na nossa época?
- Risível não, dramático.

* Essa matéria é baseada em um e-mail recebido de um amigo

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