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Detalhes tão pequenos...


Sábado. Boanerges e Cremilda ainda na cama. Cremilda se espreguiça e estica os dedos dos pés, para fora do lençol, bem na mira do olhar de Boanerges, que olha detidamente para os pés dela:

    -Benhê, posso te falar uma coisa? – pergunta
    -Pode – e deve!- responde Cremilda ainda bocejando.
    -É que, bem, você não vai se zangar?                                
    -Como posso saber? Você acha que vou me zangar?
    -Bom...Talvez.
    -Então fala logo, senão  vou me zangar !
    -É que...são seus pés...

    Cremilda encolhe os pés para dentro do lençol.

    -O que é que tem meus pés?
    -Teus pés são tão feinhos...

    Cremilda pára um pouco, contando nos dedos. Senta na cama, rápida e estática. Boanerges olha para ela, como que arrependido, e esperando uma reação.

    -São, deixa eu ver, trinta e oito anos, três meses e cinco dias, entre namoro e casamento, e agora que você vem com essa revelação!
    -Bem, pra dizer a verdade, eu sempre reparei. É que são...(cantarola) “detalhes tão pequenos de nós dois”...
    - Detalhes..., é?
    - Desculpa, benhê, já me arrependi , sabe aquela, “diga tudo agora ou cale-se para sempre?”- Eu devia ter me calado para sempre.
    - Devia mesmo, tem hora que o silêncio é de ouro! Podia acordar sem essa.
    - Estou sinceramente arrependido, Mildinha.
    - Trinta e oito anos, três meses e cinco dias...Sobre o que mais você mentiu esse tempo todo? Agora, vai, fala tudo de uma vez!
    -Ô Mildinha, não menti, omiti, não vê que se eu carreguei você todinha, como podia  carregar  sem os pés?
    -Se pudesse deixaria os meus pés, não é? Fala a verdade!
    -Como, Mildinha?
    -E pare de me chamar Mildinha!
    -Aconteceu, bem, me perdoa, Mil...Juro que vou olhar os seus pés com outros olhos, prometo.
    -Não precisa não. Dispenso esses seus outros olhos.

    Silêncio.Boanerges, desanimado, levanta e vai para o banheiro

    -Não vai tomar banho?- pergunta.
    -Não, obrigada, bom proveito .

    Ele entra no box da suíte assobiando ”Detalhes tão pequenos de nós dois”...De repente grita do box:

    -Mildinha, vai dizer que você não tem algum segredinho de uma coisa feia minha e que você nunca falou, vai? Fala a verdade. Barriga não vale. Foi adquirida.
    - ...
    -Pode falar, não me aborreço nem um pouco!
    -Ah não? Tem certeza?
    - Só se for agora!
    - Então, lá vai. Suas orelhas. Pronto, falei!
    - Minhas orelhas...orelhas? Ãnh, viu, nem ligo! ok. Um a um.
    - Um a um não, dois a dois. Um par de pés e um par de orelhas.

    Boanerges se enxuga e examina um tempo suas orelhas no espelho.

    -É, ta certo... mas, Mildinha, o que tem mesmo de errado com minhas orelhas?- grita do banheiro.
    -E, por acaso, te perguntei o que tem de errado com meus pés? Nem quero saber!
    - Tem razão. Faz o seguinte: Deixa pros próximos trinta e oito anos, né, bem? Até lá qualquer coisa é lucro!

    Cremilda se levanta e se dirige ao banheiro.

    -Mas o que é isso, Mildinha?
    - E o que é isso, Boa?
    - . . .
    Um pára surpreso diante do outro

    - Você vai viver de meias, agora, o tempo todo, querida?
    - E você, pretende sair por aí com esse turbante de toalha?

    2 comments:

    Anonymous said...

    Ola minha amiga Sheila que bom saber que já voltou a escrever seu Cremilda e Rosilda, como sempre com artigos engraçados porem bem verdadeiros.Continue assim que vais mais longe do que pensas.Olha ainda não recebi nada da suas musicas, estou ansiosa para ouvi-la.Venha me visitar no meu blogger e comentar sobre o que esta faltando ou que poderei na sua opinião fazer para melhora-lo.Com meu carinho e estima desejo bom inicio de semana e um beijo Nanci o meu site e www.emcy.zip.net

    Anonymous said...
    This comment has been removed by a blog administrator.